#004 - Nada, silence... e o que veio depois
Sobre aprendizados, circulação internacional e o caminho de viver da própria arte
Eu estava no curso de Direção Teatral na Universidade Federal da Bahia quando conheci “Braseiro”, obra do autor cearense Marcos Barbosa.
Trabalhei com esse texto durante alguns semestres: fiz leitura dramática, ensaio de cena… Curioso: toda vez que mostrava algo, alguém me dizia “você devia montar isso!”. Um dia, montei.
Na mesma época, eu coordenava a área cultural da Aliança Francesa de Salvador. Contei sobre a peça para uma artista em residência por lá, ela se interessou e, por conta do Ano do Brasil na França, me convidou para apresentar o trabalho em La Rochelle. Incroyable!
Felipe, 2005, jovem-artista-universitário, pensou: “é só o começo. A força do trabalho tá abrindo portas. A peça vai circular.”

Foram quatro apresentações na Fabrique du Vélodrome, cobertura da télé local, conversas com um público super interessado. Sensacional. A cada noite, eu esperava o próximo convite, a nova estação. Mas… nada. Rien. Silence. Nenhum convite.
Não posso dizer que foi frustrante — eu já tinha chegado muito mais longe do que imaginava. Mas ficou o gosto de quero mais.
Essa experiência foi decisiva. Voltei para o Brasil intrigado. Como se aproveita uma oportunidade? Como se amplia o alcance de um trabalho? Como se vive disso?
As respostas não são simples. Mas uma coisa eu percebi: não se tratava só de talento ou esforço. Era preciso entender como o campo funciona — o sistema, as redes, os festivais, as portas de entrada, a comunicação.
Corta para: Looping: Bahia Overdub — festa, dança e política, direção minha, de Leonardo França e Rita Aquino. O trabalho estreou em 2015 e até hoje circula. Opa, alguma coisa eu aprendi. Acho que sim.
E como diz a canção: “aprendi a ler para ensinar meus camaradas.”
Hoje, meu trabalho de acompanhamento profissional está aberto para artistas, grupos e coletivos que também querem correr mundo. Dá uma olhada na minha mentoria para planejamento de carreira. E também, se quiser, manda uma mensagem que a gente conversa.
Não tem fórmula mágica, nem atalho porque é possível, mas não é sozinho.
Ainda estou em Porto Alegre acompanhando o Palgo Giratório, maior circuito de artes cênicas da América Latina. Aproveitei o encontro com Leornardo Florentino, analista de artes cênicas do Departamento Nacional do SESC, para perguntar como funciona a seleção das obras.
Se você chegou até aqui, este conteúdo te interessa. Considere fazer uma assinatura. Custa menos que um acarajé e ainda fortalece as artes cênicas.