# 003 - Escrevendo com IA, dançando com o futuro
Entre gadgets imprescindíveis, prêmios em Cannes e ameaças a espaços culturais: o que se projeta no horizonte das artes da cena?
Por que estou te enviando isso?
Se você acompanha meu trabalho, sabe que tenho falado bastante sobre carreira, curadoria e as encruzilhadas das artes cênicas com o presente. Este texto junta tudo isso num turbilhão: inteligência artificial, teatro, tecnologia e política cultural.

Ainda me lembro da primeira vez que ouvi falar sobre escrever projetos culturais com ajuda de inteligência artificial. Fiquei desconfortável. Pensei na autoria, no acesso desigual às ferramentas, em como (e se) seria possível usá-las de forma justa.
Na mesma época, li Elaborando projetos culturais com o ChatGPT da Beth Ponte sobre isso. Uma reflexão sem preconceitos, bem fundamentada. Abriu minha cabeça.
Nos últimos dias, o assunto voltou com força. O Google lançou novas ferramentas e meu feed virou um showroom futurista: vídeos gerados por IA com áudios e efeitos sonoros incrivelmente naturais, tradução simultânea mantendo o timbre da voz, câmera que aponta pra uma situação e responde o que fazer (!), imagens hiper-realistas, resumos automáticos de sites. Tudo isso embalado na velha promessa: seres humanos, tremei!
Fico pensando como essas tecnologias impactam as artes vivas — teatro, dança, circo, performance — num mundo de trabalho precarizado, vínculos rarefeitos e empreendedorismo vendido como salvação. (Le monde, em francês)
Hoje já é possível criar figurinos, trilhas, textos e até simular cenas com IA. Até quando o palco será território humano? E é? Em 2015, eu assisti Stifters Dinge de Heiner Goebbels na MITsp que já nos deu uma pista. Vamos aderir, recusar, regulamentar?
O Calma Urgente levantou um ponto interessante: a parceria entre a OpenAI e o design da Apple pode acelerar (ou enfeitiçar?) essa transição. Novos gadgets imprescindíveis vem ai ou IA? Trocadilho inevitável.
Na mesma semana vimos: Wagner Moura é prêmiado em Cannes e a Cia. Mugunzá corre o risco de ser despejada do centro de São Paulo.
Enquanto os lançamentos do Vale do Silício prometem acelerar o futuro, aqui seguimos defendendo espaços físicos, coletivos e humanos. Cannes é importante, mas é o teatro no centro da cidade que sustenta o presente. E a IA, entre um prompt e outro, será que sabe o que é isso?
Este texto contou com a colaboração de uma inteligência artificial. A responsabilidade continua sendo humana. Se isso te incomoda, talvez seja hora de conversar com ela.
Agenda: sigo em Porto Alegre acompanhando o Palco Giratório e na semana que vem tem oficina de planejamento de carreira no Instituto Ling